PORQUE DEUS NÃO SALVA A TODOS?

03/12/2020

Essa perguntar implica alguns atributos de Deus. Sua onipotência - Se Deus é todo poderoso, então ele pode salvar a todos; sua onibenevolência - Se Deus é todo amoroso, se ele deseja todo o bem, ele quer salvar a todos. Logo, em uma análise rápida e rasa, é fácil chegar à conclusão que "se todos não são salvos, ou é porque Deus não é todo poderoso ou, porque ele não é todo amoroso". Porém, para uma resposta mais adequada se faz necessário os três pontos listados a seguir bem definidos em mente.

A maioria dos pensadores cristãos creem que o maior motivo que Deus teve para tomar a decisão de criar suas criaturas é que ele desejava ter com elas um relacionamento verdadeiro envolvido em verdadeiro amor. A palavra "verdadeiro" nessa afirmação deve-se ter uma atenção especial. A perfeição divina implica que ele seja honesto, verdadeiro, não agir (nem querer que ajam) com falsidade. O próprio Jesus se diz ser "a verdade" (Jo 14.6) e a Bíblia nos afirma que Deus não pode mentir (Tt 1.2; Nm 23.19; 2Tm 2.13). Portanto, se o desejo dele é ter um relacionamento, esse relacionamento deve ser verdadeiro. Se ele deseja que suas criaturas o amem, essas criaturas devem ter a possibilidade de verdadeiramente ama-lo. Isso nos leva ao primeiro ponto importante em se ter em mente para resolver esta questão.

O amor verdadeiro requer livre-arbítrio! Um relacionamento verdadeiro implica livre-arbítrio. Não se pode forçar alguém a amar, no máximo pode-se forçar alguém a agir como se amasse. Logo, tendo em vista que a salvação é o retorno de um relacionamento verdadeiro da humanidade com Deus para a eternidade, o primeiro ponto a se ter em mente é que

· 1 Deus escolheu, em sua soberania, criar um mundo de criaturas possuidoras de livre-arbítrio.

Esse primeiro ponto implica o segundo ponto que devemos ter em mente que é

· 2 um entendimento correto sobre a onipotência divina.

Deus é todo poderoso e pode fazer aquilo que é fisicamente impossível aos nossos olhos, por exemplo, ele pode criar algo do nada; pode transformar este algo que ele criou em alguma outra coisa e assim por diante. No entanto, o fato de Deus ser todo-poderoso não significa que ele possa fazer acontecer o que é logicamente impossível como, por exemplo, um triangulo redondo ou um solteirão casado (o que é autocontraditório; a característica que qualifica o "ser solteiro" é justamente "não ser casado") - na verdade, não existe "algo" que seja logicamente impossível. Trata-se apenas de uma combinação inconsistente de palavras. Deus ser todo-poderoso não garante que Ele possa criar um mundo em que todas as pessoas livremente adotem sua salvação. É logicamente impossível fazer alguém executar algo por livre e espontânea vontade. Isso é tão logicamente impossível quanto fazer um quadrado redondo.

Agora repare na parte citada anteriormente onde se fala em "adotar" a salvação providenciada por Deus. Essa afirmação nos leva ao terceiro ponto importante em se ter em mente.

· 3 A salvação é condicional

A salvação é voltar a ter um relacionamento verdadeiro com Deus, para isso se faz necessário o livre-arbítrio de suas criaturas. E para a concretização de um relacionamento, as pessoas envolvidas devem querer se relacionarem. Portanto, para voltarmos a ter um relacionamento com Deus, é necessário que desejemos/aceitemos ter este relacionamento com ele. Devido à situação humana decaída, por conta do pecado dos primeiros pais (Adão e Eva), é imprescindível que Deus dê o primeiro passo vindo a nosso encontro, nos atraindo, de alguma forma, e nos dando uma nova chance de voltar a ter um relacionamento com ele. E é justamente isso que Deus faz. Ele próprio vem a nosso encontro na pessoa de Jesus e nos dá a chance de nos relacionar com Jesus, amando a ele e confiando nossas vidas a ele. Isso tudo através da fé que depositamos em Cristo (Is 49.6,8; Jo 10.9; 11.25; Ef 2.18). Logo, a condição da salvação, de voltar a ter um relacionamento com Deus, é através da crença em Jesus - se faz necessário ter fé nele (Jo 11.25; 14.1,6; Rm 5.2; Hb 10.19), uma fé viva (Tg 2.17,26; 2Tes. 2: 13), envolvida em verdadeiro amor (Jo 14.15, 21, 23; 1Jo 5.3).

Em uma objeção qual implica um outro atributo de Deus - sua Justiça -, a condição do ser humano pecador e uma possibilidade de merecimento da graça de Deus o teólogo Norman Geisler comenta:

Somos salvos pela graça de Deus, mas a graça não é merecida pelo pecador. A justiça demanda que o pecado seja condenado. Não há nada nos pecadores que provoque Deus a salvar; a justiça tem de condená-los. Todavia há algo em Deus que o incita a salvar os pecadores, isto é, o seu amor. Considerando que Deus é por natureza Todo-amoroso, Ele tem de tentar salvá-los. Portanto, Deus não tem de mostrar amor, porque o merecemos (pois, na verdade, não merecemos), mas porque a sua natureza o exige. O amor não é um atributo arbitrário de Deus; está arraigado na sua natureza necessária.[1]

Isto posto e compreendido devidamente, entende-se que Deus, sendo todo amoroso, quer a salvação de todos (Lc 24.47; Atos 17.30; 1Tm 2.4), porém, sua onipotência não significa realizar aquilo que é logicamente impossível e, devido ele ser perfeito e verdadeiro, deseja uma relação envolvida em amor verdadeiro, o que implica que suas criaturas sejam livres (e não robôs programados para agir como se o amassem). Deste modo a salvação deve ser condicional, onde, dentro desta "condição", suas criaturas exercem o livre-arbítrio. Assim sendo é possível que nem todas suas criaturas "aceitarão" a salvação por Ele provida graciosamente, muitos irão resisti-la por livre e espontânea vontade (Jr 6.10; Jo 3.19; 7.7; Atos 7.51).

Então, quer dizer que os "planos" de Deus podem ser frustrados? Não, de maneira alguma. Deus conhece a sí próprio e os mundos possíveis qual ele poderia criar. O que pode ser dito é que Deus, em sua onisciência, sabia que nem todos seriam salvos e mesmo assim determinou criar este mundo, ou seja, está dentro de seus planos. No entanto, não pode ser afirmado que Deus não quer que todos sejam salvos (que ele não deseja um relacionamento com todos), Ele quer, porém, deve ser dentro das condições estipuladas.

Por Pr. Eder L. Souza, 03/dez/2020.


[1] Geisler, N. (2010). Teologia Sistemática Volume Um e Dois. Rio de Janeiro: CPAD. p. 880 (itálicos do autor)

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