Os Dez Mandamentos

28/06/2023

(Material produzido como esboço para apresentação didática)

A Lei e o Cristão

Jesus cumpriu toda a lei (Mt 5.17,18); Tal modelo de Aliança era passageiro (Jr 31.31-33; 2Co 3.7,11). Os cristãos não estão debaixo da Lei (Mt 28.20; Rm 6.15; 7.1-4; Gl 3.23-25). Os mandamentos de Jesus é que tenhamos fé nele, é a Lei do Amor (Jo 6.28,29; Rm 13.10; Gl 5.14).

Todo ensinamento de Moisés (e todo AT) deve ser compreendido à luz do Evangelho de Cristo (Hb 3.1-6).

NT trata a lei como sombras da (apontavam para) realidade que se encontra no corpo de Cristo, a Igreja (Cl 2.17; Hb 10.1). No entanto, toda Escritura deve ser absorvida, pois ela é proveitosa para o crescimento do cristão (2Tm 3.14-17).

Contexto

Os dez mandamentos estão registrados em dois lugares (Ex 20.1-17; Dt 5.6-21)

Deus vinha cumprindo suas promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.18; 17.19; Ex 2.24). Agora os filhos de Israel eram uma grande multidão que precisava ser organizada como nação com um governo com estatutos em forma de leis (Dt 6.1-3). É através de Moisés que Deus torna a Aliança com eles mais especifica e regularizada com várias leis (Ex 19.1,5; 24.7), deixando mais claro para o povo de Israel o nível de compromisso e separação das demais culturas e religiões exigidos por Deus para que essa aliança não seja rompida (Ex 6.7; 19.4-6). Quem ama, educa; quer ver o aperfeiçoamento do amado.

Dt 4.13 "Pacto", "Aliança", "Concerto", "Testamento"; mesma palavra usada por Jesus ao instituir a Ceia do Senhor. Essa aliança através de Moisés era temporal, local e nacional com um mediador falível, ao passo que a de Cristo tem aplicação universal, a favor de toda raça humana, com um mediador perfeito.

"A formulação literária da aliança é bastante semelhante à formulação de tratados internacionais do antigo Oriente Próximo. Geralmente, esses tratados determinavam o tipo de comportamento exigido ou proibido. Nesse sentido, pode-se entender que a forma apodíctica dos Dez Mandamentos os classifica mais como aliança do que como lei." (COMENTÁRIO HIST/CULT., p. 119)

1° Não Terás Outros Deuses (Ex 20.1-3; Dt 5.6,7; 6.4-6)

O Egito era conhecido como Terra dos deuses. O povo de Israel viveu muito tempo dominado por um povo politeísta.

A idolatria é sedutora! Ir três vezes no ano a Jerusalém, enquanto se poderia ir a um santuário próximo de um deus qualquer; buscar os próprios desejos manipulando ídolos, invés de se submeter à vontade de um Deus zeloso; cultos com práticas de sexo, gula, etc., invés de ordem e decência.

Deus reivindica Israel para si. Tem ciúme dos seus, porém um ciúme bom, um "zelo de Deus" (Os 11.8; Jr 2.13). Ele trata o relacionamento com o ser humano em termos de casamento; Ele é um Deus relacional; o amor dele é como de um marido apaixonado (Ez 6.9). Violar este mandamento é repudiar a totalidade de relação desta Aliança; é uma alta traição.

"diante de mim" Um mandamento proíbe que a existência de outros deuses seja considerada por seu povo. Não existe nenhum Deus além do Deus de Israel (Is 45.6,14,21; Jo 17.3; 1Co 8.6). Os ídolos que os pagãos adoram são fruto de suas imaginações (1Co 8.5; Gl 4.8) ou são, até mesmo, os próprios demônios (1Co 10.19-21). Com as pragas no Egito Deus comprovou que não há Deus além dele.

Jesus cita como parte do primeiro grande mandamento (Dt 6.4; Mc 12.29,30)

Isso não contradiz a doutrina da trindade. A mesma palavra traduzida por "único" (Dt 6.4) também é usada para afirmar que marido e mulher são um, como unidade composta (Gn 2.24). Além disso, vemos a trindade indiretamente em todo Antigo Testamento.

O primeiro mandamento ensina o monoteísmo; que o Deus de Israel, o Deus revelado por Jesus Cristo, deve ser o único assentado em nosso coração, isto é, na sede de nossos pensamentos, desejos e vontades. Como Jesus ensinou: ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24)

2° Não Farás Imagem de Escultura (Ex 20.4-6)

Primeiro mandamento: adore somente a Deus. Segundo: o adore diretamente, sem mediações (Atos 15.20).

No antigo oriente, eles acreditavam que as divindades se faziam presentes de forma especial através das imagens.

Dt 4.12-15 proíbe adorar o próprio Deus por intermédio de qualquer objeto (Ex 32.4-6). Deus é Espírito (Jo 4.24; Ex 3.14; Jó 11.7-9) e invisível (Cl 1.15; 1Tm 1.17).

"Não te encurvaras, nem as servirás". Praticas com as imagens com intenções acerca da divindade que ela representa (ex. aspergir zelosamente perfumes para agradar e persuadir a divindade).

Geralmente os teólogos católicos lembram da arca da aliança com seus querubins e da serpente de bronze que foi levantada no deserto para defender suas práticas de culto às esculturas e imagens. Contudo, os hebreus não cultuavam esses objetos, não dirigia orações a eles. A arca e seus querubins sequer eram vistos pelo povo (Ex 26.33). Para que não cultuassem a serpente, ela foi destruída (2Rs 18.4).

Outro argumento é que não adoram os santos, mas os veneram. Porém, prostrar-se diante de uma imagem, dirigir a ela orações e ações de graça, fazer-lhe pedidos, cantar-lhe hinos de louvor (até grandiosos templos são construídos e dedicados a terceiros ao invés de a Deus), não se distingui de adoração e culto que deve ser oferecido somente ao Deus verdadeiro. "A favor dos vivos, se consultaram os mortos?" (Is 8.19). Chamar a isso de veneração é subestimar a inteligência humana.

Uma imagem também pode erroneamente ser considerada um amuleto, algo dotado de poder de proteger, de ajudar ou de permitir alguma realização.

Maria foi uma mulher honrosa, mas a Bíblia não lhe confere uma posição de culto ou sequer oração. A própria Maria jamais aceitaria ser cultuada (Lc 1.46; 11.27,28; 1Tm 2.5; cnf. Lc 7.28).

Certamente por trás da idolatria há um certo interesse econômico.

Zeloso: puni e abençoa sem medidas. Terceira e quarta geração é um modo de dizer semítico da época: indica qualquer número ou plenitude; a família por completo é prejudicada quando há em seu ceio idolatria. Vemos uma representação disso nas palavras de Jesus, que haveria transtornos em famílias onde a conversão não alcançava todos os membros (Mt 10.34-37; Lc 21.16). Contudo, o objetivo real era contrastar o castigo com a benção: as bênçãos para quem obedece ultrapassa infinitamente o juízo, a punição. Revela o grande amor de Deus.

Devemos distinguir ídolos de objetos decorativos (1 Rs 6.23-30; 2 Cr 3.10-14; Ez 41.17-20).

O único mediador entre Deus e os homens, é Jesus (1Tm 2.5,6), ele em pessoa, não uma representação dele.

3° Não Tomaras O Nome Do Senhor Em Vão (Ex 20.7)

Sacerdotes de outras religiões usavam o nome de seus deuses em encantamentos e magias, até mesmo para propósitos malignos[1]. Algo que Deus quer evitar no meio de seu povo.

A dificuldade em cumprir seus compromissos era motivo de juramentos triviais (muitos utilizando o nome de Deus). Deus é santo e exige santidade. O relacionamento de todas as pessoas deve ser honesto, cada um deve falar a verdade. A Lei estabelece limites.

Antigamente o nome era empregado para mostrar o caráter e a índole do indivíduo. Houve casos de mudanças de nomes como no caso de Jacó para Israel (Gn 32.28). O nome de Deus representa o próprio Deus, sua natureza e atributos.

YHWH (Yahweh, Javé ou Jeová) a pronúncia exata se perdeu com o tempo; não utilizavam pronunciar por medo de vulgarizar o nome. Estudos apontam que a pronúncia antiga do nome é Yahweh (em português: Iavé ou Javé). Jeová nasce (no século XI) da inserção das vogais do termo Adonay (Yehowah).

O nome de Deus vem do verbo haya (ser, estar). EU SOU O QUE SOU (Ex 3.14). Indica que Deus é auto existente e imutável.

Em vão; inutilmente; à toa; indica algo sem valor material e moral. Usar o nome de Deus de modo superficial, ou faltar com a verdade em seu nome, juramento falso ou um voto e não cumprir.

Um mandamento que surge por causa da realidade da desonestidade das pessoas. A finalidade é pôr um freio na mentira e, também, evitar a profanação de seu nome e o juramento indiscriminado e leviano, pois o voto é um tipo de compromisso que deve ser reservado para uma solenidade excepcional e incomum. Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensina a santificar o nome de Deus. Deus quer que tenhamos a consciência de que TUDO que é referente a ele é extremamente importante e não deve ser levado de modo irreverente.

4° Santificarás o Sábado (Ex 20.8-11)

Lei que tem relação com trabalho-repouso e o relacionamento de Deus com Israel.

Social e Espiritual: não há lei equivalente nas demais religiões; promove o descanso de humanos e animais, como também estimula a espiritualidade, a adoração.

O sétimo dia da criação, sem tarde (Gn 2.2,3), é usado como exemplo para a lei, mas é ainda mais exemplificado no descanso do povo de Deus no fim dos tempos (Hb 4.4-6,9).

Antes desse momento, já tinha sido ordenado com o evento do "maná" (Ex 16.22,23). Parece que o povo não levou a sério no deserto, daí a lei.

Hoje: O antigo concerto (como também o sábado; Os 2.11) foi encravado na cruz (Cl 2.14-17), revogados e anulados (2Co 3.7-11; Hb 8.13) [veja introdução, p.1].

No entanto, nove dos dez mandamentos, são repetidos no NT como sendo praticas devidas para os cristãos, apenas o sábado fica de fora.

Grandes nomes como Abraão, Isaque e Jacó agradaram a Deus, foram tidos como justos, amigos de Deus, sem o sábado.

A lei veio de Deus, ele tem autoridade sobre ela. Os seres humanos não foram criados para guardar o sábado, mas o sábado foi criado para o benefício dos humanos (Mc 2.27)

Jesus a equipara às leis cerimoniais (Mt 12.2-8), e a considera como inferior à circuncisão (Jo 7.22,23). Um mandamento moral é obrigatório por sua própria natureza.

A questão não é a guarda do sábado em si, mas que não estamos sob o antigo concerto (Hb 8.6). A guarda por si só não faz da pessoa menos cristã (Rm 14.1-6), porém se é vista como obrigatoriedade, é um retrocesso espiritual (Gl 4.10-11), e se for ensinada como necessária para salvação é uma heresia, não é cristianismo.

Domingo: lt. dia do senhor

Dia que Jesus ressuscitou, também dia do primeiro e segundo culto cristão (Jo 20.19, 26). Parece ter virado uma prática comum (Atos 20.7; 1Co 16.2), sem decreto ou imposição. Na Nova Aliança não há mandamento algum de guarda de dias.

5° Honraras Pai e Mãe (Ex 20.12; Dt 5.16)

O apóstolo Paulo estabelece o quinto mandamento como sendo algo devido à igreja (Ef 6.1-3), porém, não por lei, mas como resultado de sua nova vida em Cristo.

O lar é considerado importante para a transmissão das instruções da Aliança às gerações seguintes. Se os pais não fossem considerados ou se sua autoridade fosse rejeitada, a Aliança estava em perigo.

Inclui viver de tal maneira que eles fossem honrados numa sociedade temente a Deus (Dt 21.18-21: filhos rebeldes, uma atitude que repudia a Aliança, ameaçam a comunidade como um todo).

Honrar: Não se trata apenas de obedecer…, pode-se odiar e obedecer, mas é impossível odiar e honrar.

Cuidados: é também cuidar do sustento, das necessidades como um todo, dos pais (Gn 47.12; 1Sm 22.3). Desse modo, é evidente que não é apenas para crianças e adolescentes (Mc 7.10-13).

Corbã (Mc 7.10-13): "Consagrado a Deus"; "sacrifício". Usavam desse artifício para fugir do compromisso de sustentar seus pais na velhice, pois se consagrava a Deus tudo que possuía. Uma violação à Lei em nome de uma falsa santidade. Cuidar da família já está honrando a Deus (1Tm 5.8).

Pais espirituais: pode ter uma certa referência analógica aos líderes espirituais, aos quais devemos honra (Dt 12.19; Jz 5.7; 2Cr 20.20; Gl 6.6; 1Tm 1.2; 5.17; 1Ts 5.12-13; Hb 13.17; 1Jo 2.1). Era comum que filósofos, mestres e rabinos se referissem aos seus discípulos chamando-os de "filhos".

Pais abusivos: os pais devem educar de tal forma que "não provoquem os seus filhos à ira" (Ef 6.4). Porém, aos filhos que têm péssimos pais, a Bíblia nos diz que Deus nos pede para amar até mesmo nossos inimigos, aqueles que nos perseguem (Mt 5.38-47). Deus não quer que cultivemos a amargura. Se, quando adulto, não estamos mais sob o abuso, o espírito de perdão deve governar nossas vidas de modo que devemos honrar esses pais que foram abusivos provendo, conforme nossas possibilidades, suas necessidades, assim cumprindo o "espírito" desse mandamento.

6° Não Matarás (Ex 20.13; Dt 5.17)

Aqui de modo geral a morte de pessoas (matarás – assassinar); ao longo do AT de modo mais abrangente (Ex 21.12; Lv 24.17)

Homicídio culposo, que não há intenção de matar, o autor não devia morrer, podia refugiar-se (Dt 19.4-6).

Antes de Moisés; baseado na imagem de Deus; remete a Caim e Abel (a Noé: Gn 9.6)

Princípio de interpretação: O contrário está sendo incentivado ("não matarás" – proteção à vida)

Jesus inclui nesta lei o ensino sobre o amor (1Jo 3.15; Mt 5.21-22; tolo, cabeça vazia, imprestável: o termo era forte, indica ódio) e a paz (Mt 5.44; Rm 12.18)

7° Não Adulterarás (Ex 20.14; Dt 5.18)

É uma proibição absoluta expressa de maneira simples, sua regulamentação para os israelitas pode ser encontrada nos livros de Levítico e Deuteronômio.

Os 10 mandamentos seguem uma lógica. Primeiro aparece a proteção da vida (não mate), em seguida vem a família (não adultere) e depois os bens (não furte) e a honra (não de falso testemunho e não cobice), a fim de estabelecer uma sociedade moral e espiritualmente sadia.

Adultério é uma traição, é a quebra de uma aliança assumida pelo casal diante de Deus e da sociedade. A quebra deste mandamento pode parecer doce e prazerosa, mas o seu fim é amargoso como o absinto (Pv 5.4). É destrutivo para toda a família, para a igreja do Senhor e, de modo geral, para a sociedade.

Pecado muito grave. Os infratores da lei, para que esse mal exemplo não fosse seguido, deviam ser mortos, tanto o homem quanto a mulher (Dt 22.22; Lv 20.10; Pv 6.32-33).

O adultério é muitas vezes utilizado como uma metáfora para representar a idolatria ou apostasia da nação e do povo comprometido com Deus (Jr 3.8-9; Ez 23.26,43; Os 2.2-13).

Jesus reitera esse mandamento, trazendo à tona um entendimento mais profundo. A Lei corretamente interpretada pede transformações interiores, revelando o ideal pretendido por Deus na formação do caráter dos crentes (Mt 5.27-28; 19.18). O olhar cobiçoso a um terceiro é uma quebra da verdadeira intenção (de fidelidade) da aliança feita com o cônjuge. [ver também: ; 1 Co 5:1-13; 6:9-20; Hb 13:4]

Jesus expõe isso, porém, não em forma de lei, nem torna a Lei mais rigorosa. Há compreensão em Jesus acerca da fraqueza e fragilidade humana; há misericórdia e perdão para os arrependidos (Jo 8.1-11).

8° Não Furtarás (Ex 20.15; Dt 5.19)

Ligação entre e o décimo mandamento (não cobiçar o que de outrem) e o sexto (veremos adiante).

Segundo a tradição rabínica, o sentido primário deste mandamento era a proibição do rapto de pessoas para serem vendidas como escravos. O mesmo verbo hebraico aqui traduzido por "furtar" é usado para tráfico de pessoas (Ex 21.16; Dt 24.7). Esse tipo de crime era comum naquela época. O Novo Testamento menciona essa pratica perversa (1Tm 1.10). A interpretação rabínica é aceitável e tem apoio da maioria dos expositores do Antigo Testamento, mas o oitavo mandamento não se restringe a isso.[2]

É uma proteção dos bens alheios. Para que uma sociedade seja próspera justa e tenha paz deve prezar pelo respeito à propriedade alheia. O indivíduo tendo conseguido seus bens e propriedades de maneira lícita, ninguém tem o direito de privá-lo de suas conquistas.

Uma proibição formal de toda forma de furto. Desde o simples furto como também qualquer negócio com vantagem ilícita e que deixe o outro no prejuízo (Lv 6.2; 19.11,13). Tirar vantagens de outrem na venda de propriedades, ou produtos, ou em transações comerciais. Como também é impróprio pagar salários mais baixos do que é devido.

A lei não somente punia alguém que furtou, mas, concordando com o sexto mandamento, protegia a vida do ladrão e fazia com que ele restituísse suas vítimas (Ex 22.1-9; Lv 6.4-5), prezando pela paz. A lei mais específica, que faz referência ao oitavo mandamento, promove a vida. Se o ladrão for apanhado em flagrante durante o dia, o dono da casa será "culpado de sangue" se o matar – de dia (quando é fácil de ver onde se desferirá o golpe), parece ter a ver com assassinato intencional (Ex 22.3); a noite (não se vê nitidamente), diz respeito ao assassinato não intencional, por isso ele não é "culpado de sangue" (Ex 22.2).

No Novo Testamento: Roubo procede do coração (Mt 15.19); no roubo há hipocrisia; não roubar é amar o próximo (Rm 2.21; 13.9); sofrer por ser cristão é honra, por ser ladrão é vergonha (1Pe 4.15). O apóstolo Paulo encoraja o trabalho de modo que cada um contribua para suprir a necessidade do próximo (Ef 4.28). Tiago repreende os patrões que defraudam no pagamento dos contratados (Tg 5.1-4). Em Atos 5 Ananias apropriou-se ou conservou para si mesmo uma parte da venda de uma propriedade.

9° Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (Ex 20.16; Dt 5.20)

"Falso Testemunho" diz respeito a uma mentira, a uma declaração consciente falsificada. Deus se importa com o que sai da nossa boca. Deus é a verdade e deseja que nossos relacionamentos sejam pautados na verdade.

A mentira é tão grave quanto os outros pecados descritos no decálogo, como assassinato, adultério e furto. Está entre os sete pecados que Deus aborrece e abomina (Pv 6.16-19). A pena contra falsa testemunha é o mesmo que ela tentou fazer ao seu próximo (Dt 19.19).

Ninguém podia ser acusado por uma só testemunha (Dt 19.15-20). Um meio de dificultar o crescimento da injustiça; um meio de promover um julgamento justo. Mas nunca faltou na história quem se dispusesse a testemunhar falsamente. Jesus foi vítima de testemunhas falsas (Mc 14.56).

A finalidade do nono mandamento é erradicar a mentira, a calúnia, a falsidade e, também, preservar a reputação do próximo (não atentar contra o próximo com mexericos; cnf. Lv 19.11-16). Não era um mandamento vigente apenas em âmbitos jurídicos, também nos relacionamentos pessoais. A reputação é conceito, o renome que alguém tem num determinado grupo. Como podemos cuidar da reputação do nosso próximo? Uma das maneiras é não mentir ou fazer comentários maldosos (mexerico) a respeito dos irmãos. Algumas pessoas já cometeram suicídio depois de terem sido vítimas de calúnia e difamação (Pv 15.4; 18.21). A violação do nono mandamento é um atentado contra o próximo e contra o criador, porém muitos não se dão conta disso.

Deus é a verdade absoluta (Dt 32.4; Jo 14.6) e espera que seu povo também seja, por meio da imitação (Mt 5.48; Ef 4.25; 1Pe 1.15-16). Jesus nos ensinou a tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados (Mt 7.12). Devemos permanecer longe de mexerico (2Co 12.20; Cl 3:9; Ef 4:25; 1Tm 5.13).

Os mentirosos constam na lista daqueles que não entrarão no Reino de Deus (Ap 21.8; 22.15). Teremos que dar conta ao nosso senhor de toda palavra ociosa proferida pela nossa boca (Mt 12.36).

10° Não Cobiçarás (Ex 20.17; Dt 5.21)

Os católicos romanos e, também, a igreja luterana dividem o décimo mandamento em dois: "não cobiçarás as coisas do teu próximo" e "não cobiçarás a mulher do teu próximo". Eles também unem os dois primeiros mandamentos: "não terá outros deuses" com "não farás para ti imagens de escultura". Na soma permanecem dez. Uma repartição que provém de Agostinho (354-430 d.C). Nós protestantes seguimos a divisão original, como os judeus da época dividiam[3].

A cobiça é o desejo excessivo de possuir aquilo que pertence a outro (Mq 2.2). Não é simplesmente almejar. São desejos fortes que influenciam uma pessoa a saciá-lo utilizando até mesmo meios ilícitos.

Esse mandamento envolve muitos tipos de pecado: como luxúria, busca de posses por maneira ilícitas, obsessão pelo poder, ostentação e orgulho. É o único mandamento que vai além das ações do indivíduo e trata da condição de seu coração.

É necessário que cada pessoa se controle para viver uma vida virtuosa, e isso é fundamental na construção de uma sociedade justa infeliz (Pv 16.32). Esse mandamento protege o ser humano de ambições erradas, promove o respeito mútuo entre as pessoas e seus bens.

Um mandamento que não prescreve punição (assim como os outros descrevem no decorrer do pentateuco), mas o Antigo Testamento mostra os resultados da quebra deste mandamento: as calamidades e desgraças que acontecem na vida dos inocentes e, também, na vida daqueles que quebraram o mandamento. Um exemplo disso é a história do rei Acabe e sua esposa Jezabel, os quais cobiçaram a vinha de Nabote (1Reis 21; 22.19ss). Acabe adoeceu por causa do sentimento de cobiça que não foi saciado e sua esposa agiu ilicitamente para satisfaze-lo ocasionando a morte de Nabote.

Esse desejo ilegítimo por algo que pertence à outra pessoa é o cerne do problema e uma ameaça à comunidade, e qualquer ação no sentido de satisfazer o desejo é considerado pecado. A queda do homem começou com a cobiça daquilo que não era seu (Gn 3.6). A cobiça é a raiz da qual surge todo pecado contra o próximo, tanto em pensamento como na atitude: Cobiçar a mulher do próximo já é adultério (Mt 5.28); refrear esse sentimento é amor ao próximo (Rm 13.9), portanto, cobiçar é um ato de desamor; Da cobiça provém guerras, assassinatos, inveja (Tg 4.1-2). Cobiça é amor ao mundo e contrário ao amor a Deus (1Jo 2.15-17).

Considerações Finais:

Para o cristão, os 10 mandamentos, toda a Lei e os profetas, se resumem (assim como ensinado por Jesus) a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Mc 12.28-30; Mt 22.40).

A Lei continua em vigor condenando o mundo (Mt 5.17-18), mas o evangelho (as Boas Novas), como o indulto (perdão concedido pelo presidente), está à disposição, oferecendo salvação, tirando o jugo de nossas costas e nos tratando como filhos (Rm 3.31; 8.1-8; 2Co 3.6).

……

"Quando se menciona Assêret Hadibrot, mais comumente conhecida como os Dez Mandamentos, algumas pessoas possuem uma falsa impressão de que existem Dez Mandamentos que foram separados como sendo os mais importantes da Torá. Mas na verdade a tradução correta de Assêret Hadibrot é "Dez Falas" ou "Dez Ditos", sendo que estes são dez princípios que incluem toda a Torá e seus 613 preceitos, inclusive estes dez.

As próprias letras de Assêret Hadibrot demonstram este fato. Os Dez Mandamentos são escritos com 620 letras significando que D-us deu no Sinai os Dez Mandamentos que abrangem os 613 preceitos e as sete Leis de Nôach; 613 com 7 somam 620.

É interessante notar que a soma dos números 6, 1 e 3, de 613 totaliza dez (Mandamentos), mostrando também que as 613 mitsvot incluem os Dez Mandamentos." (Disponível em: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/666858/jewish/10-Mandamentos.htm acessado em 25/05/2023.)


[1] Comentário Hist.Cultural, p. 120; O Novo Comentário Bíblico: Antigo Testamento, p. 165;

[2] Esequias Soares, lições do 1° trimestre de 2015, "Os 10 mandamentos", p.71 (cnf. Coment. Bíb. Hist/Cult).

[3] JOSEFO, Flavio. História dos Judeus

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