O Cristão e o Álcool

31/07/2022

A várias palavras na Bíblia que identificam as bebidas alcoólicas, porém o interesse maior liga-se a duas palavras hebraicas do AT que são usadas diversas vezes: yayin (134 vezes) e tirosk (38 vezes). O termo yayin "parece ser usado para descrever todos os tipos de vinho (Ne 5.18), desde o simples suco de uva, ou um xarope engrossado, até as bebidas alcoólicas mais fortes com as quais os israelitas estavam familiarizados, cujo uso frequentemente levava a cenas deploráveis de embriaguez. O termo tirosh é usado para o suco que acabou de ser extraído das uvas, é frequentemente traduzido como "vinho novo". A palavra é usada aparentemente até mesmo para denotar o suco ainda não espremido das uvas (Is 65.8; Mq 6.15). O termo grego oinos é a tradução dos dois termos hebraicos. Todas as referências do NT ao vinho, exceto uma (Atos 2.13), usam essa palavra (é usada ao todo 33 vezes). O termo gr. refere-se a "vinho, normalmente ao suco de uva fermentado"

Muitos insistem que quando a bebida alcoólica é citada, é sempre por meio de condenação, e que os versículos que parecem recomendar o uso de vinho sempre têm em vista o suco não fermentado. Entretanto, é duvidoso que essa tese possa ser mantida.

Não existe uma Lei de Deus proibindo o povo como um todo o uso da bebida alcoólica, a não ser em casos específicos, como no caso dos sacerdotes, que eram proibidos, porém, não em absoluto, mas, apenas quando ministravam no Tabernáculo (Lv 10.9). Parece que a ingestão de vinho foi o que causou o erro de Nadabe e Abiu que resultou em suas mortes (Lv 10.1,2). Semelhantemente, ela era proibida ao nazireu durante o tempo de sua separação (Nm 6.3,20), podendo fazer uso da bebida novamente após esse período. Portanto, o álcool em si não é pecaminoso. Na verdade, encontramos até recomendação do uso do vinho, como no caso do apóstolo Paulo que sugere o uso do vinho a Timóteo para propósitos medicinais (1Tm 5.23; veja também Ec 9.7). Outrossim, além do fato do primeiro milagre registrado do Senhor Jesus ter sido a transformação de água em vinho (Jo 2.1-10), parece que ele deve ter compartilhado em algumas oportunidades de bebidas com teor alcoólico, a tal ponto de ter sido incorretamente classificado como um "beberrão" (Mt 11.19; Lc 7.34).

No entanto, deve-se pontuar que, naquela época, o teor alcoólico das bebidas era inferior ao das bebidas de hoje; também que a água não era tratada, de maneira que por diversas vezes optavam pela bebida fermentada por ela ser mais segura para sua saúde - parece que Paulo tinha isso em mente ao recomendar a Timóteo o vinho (1Tm 5.23).

Além disso, note também que há diversas advertências nas Escrituras acerca da utilização da "bebida forte". Paulo - citado apouco como recomendando o uso - em outros momentos adverte fortemente e ordena que, entre os cristãos, não haja embriaguez (Ef 5.18; 1Tm 3.8; Tt 2.3). O livro de Provérbios, o qual é uma coletânea que contém máximas e advertências cujo o objetivo é instruir na arte da vida bem-sucedida, possui menções frequentes dos perigos da intoxicação e do alcoolismo (Pv 20.1; 21.17; 23.20,21,30,31). Outros livros segue a mesma linha de pensamento: que o abuso e a embriaguez devem ser evitados (Dt 21.18-20; Is 5.22; 28.7; Jl 1.5; Am 6.6; Hc 2.5).

Somado a isso, a Bíblia nos conclama à perfeição (Lv 11.44; Mt 5.16; Ef 1.4; 2.10); a nos entregarmos por inteiro, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Lc 10.27), deixando as paixões e prazeres mundanos de maneira que o cristão não deve usar sua liberdade de modo impróprio (Rm 6.18-22; 1Co 6.12; Gl 5.13). Com efeito, deve-se considerar as circunstâncias: se suas atitudes vão ou não ser motivos para o próprio tropeço (Mc 9.43-48) ou ser parte do tropeço do irmão (1Pd 2.11-12; 1Jo 3.18), causando, assim, uma desonra a Deus. Paulo, por ex., aos crentes, recomenda que se abstenham da bebida, se isto for colocar um tropeço diante de um irmão mais fraco (Rm 14.21). Ter o amor, para com Deus e para com o próximo, sempre em mente; saber o que isso realmente significa; é o segredo que a Bíblia nos revela para uma vida irrepreensível (Lc 10.27-28; 1Co 13; Cl 3.14)

Também, além daquilo que as Escrituras nos apontam, nossas experiências de vida acerca das consequências devastadoras do álcool são muitas e não podem ser ignoradas. Sabemos do perigo existente sobre o uso, até mesmo de uma pequena quantidade, quanto à direção de um veículo. Milhares de vidas são ceifadas anualmente! É visto, também, como porta de entrada para vícios ainda mais destrutíveis. No lar, os resultados não são inferiores. Divórcios, abandono de lar - muitos optam por uma vida de andarilho por causa da bebida -, brigas violentas e até mortes; tragédias. Veja uma pequena lista das consequências do uso de bebidas alcoólicas que estudos científicos da psicologia, entre outras áreas da saúde, apontam:

  • Pensamentos e atitudes que jamais teria em condições normais
  • Vicio de maneira que prejudica a si próprio como os demais que o cerca, onde precisará de ajuda profissional
  • Déficit de memória
  • Piorar a insônia ou a hipersonolência
  • A psicose é um processo mórbido, de causas diversas (desde psíquicas a sociais), caracterizadas pela perda de contato com a realidade. O indivíduo desliga-se do seu meio externo e volta-se para o seu "eu", criando o seu próprio mundo, um mundo irreal, imaginário, dos seus delírios e alucinações. A pessoa isola-se, não fala, perde a vontade, não manifesta emoções, etc.
  • Transtorno bipolar (variações de humor; energia; autoestima); transtorno depressivo.; de pânico; de ansiedade
  • Alterações na Personalidade tornando-a mórbida, como a demência, por ex.
  • Disfunção erétil entre outras disfunções sexuais, como a falta de desejo p.e.
  • O motivo dos próprios filhos fazerem uso da bebida, podendo tornar-se alcoólatras.
  • Problemas para o bebê desde o ventre, quando a mãe faz uso.

São tantos males à nossa saúde que o álcool pode provocar.... Devemos lembrar que nosso corpo é "templo do Espírito Santo, que habita em nós" (1Co 6.19-20), portanto deve ser bem cuidado.

Parece que o princípio exposto por Paulo sobre a questão do casamento se encaixa no assunto. Em 1 Coríntios 7 ele insiste que casar não é pecado, mas que seria melhor, para uma vida mais consagrada a Deus, que não casassem. Semelhantemente, é o que a bíblia parece apontar sobre o caso da bebida alcoólica. Não há pecado nela em si ou no ato de consumo per si, porém melhor seria a abstinência dela.

Desse modo, mesmo não existindo uma lei absoluta contra a ingestão de bebidas alcoólicas; mesmo elas não possuindo pecado em si mesma; há uma grande chance de estarmos pecando em fazer uso delas. Geralmente, o pecado está na busca, ou na intenção (1Sm 16.7; Lc 16.15), ou, até mesmo, na falta de vigilância/consideração sobre tudo que engloba quanto a utilização de algo que se sabe que a possibilidade de gerar um mal é real e relevante (Tg 4.17; 1Pd 3.18). Isso é assim, não apenas para o caso do álcool, mas para tudo (Rm 15.1-2; 1Co 8.13), como por ex. a escolha de um tipo de roupa. Somos livres para fazermos nossas escolhas e, se somos livres, podemos fazer escolhas diferentes das quais de fato fazemos - essa é uma das definições do que é ser livre; ter poder de fazer diferente -, o que nos torna passíveis de sermos responsabilizados por elas e por suas consequências. A liberdade que possuímos em Cristo Jesus (Jo 8.31-32), não nos exime da responsabilidade, pelo contrário, acrescenta (Gl 5.13; Tg 1.25; 2.12). Antes não tínhamos possibilidade de agradar a Deus (sem fé é impossível; Hb 11.6), ou seja, não éramos "livres" para agrada-lo (Ef 2.1-3), hoje temos essa possibilidade, pois cremos em seu Filho - então, temos tanto a liberdade para escolher agrada-lo quanto para escolher não o faze-lo (Dt 30.19). Lembrando que escolher por não fazer nada - por ex. não pensar nos irmãos ou nas consequências antes de tomar uma posição - também é uma escolha (Tg 4.17; Lc 12.47).

Repito: "Ter o amor, para com Deus e para com o próximo, sempre em mente; saber o que isso realmente significa; é o segredo que a Bíblia nos revela para uma vida irrepreensível". Esteja sempre atento à "lei do amor". Desse modo, como Jesus disse, estaremos no caminho certo (Lc 10.27-28; cnf. Mt 22.37-40). O amor tudo suporta, tudo espera, não procura seus interesses e deve estar acima de tudo (1Co 13).

"acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição." (Cl 3.14 ARA)

"Examinem tudo, fiquem com o que é bome evitem todo tipo de mal." (1Ts 5.21-22 NTLH)


Por Pr. Eder Souza.

Referencias:

Dicionário Bíblico Wycliffe - Charles F. Pfeiffer, Howard F. CACP. 2007. p.2021-22

Pator Kleber Maia, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JC6vv96BUkY&t=2646s 

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