Não julgueis, para que não sejais julgados

08/02/2020

Muitos lançam mão dessa premissa para não serem perturbados por motivo de suas práticas, ou para reprimir aqueles que denunciam o mal. Querem dizer que "não nos é permitido apontar o erro, denunciar o pecado, disciplinar os que erram", pois Jesus assim ensina a "não julgar". Desde líderes religiosos desonestos, falsos profetas, cristãos em geral a descrentes utilizam deste argumento destorcendo a Palavra de Deus.

Todavia, a Palavra de Deus, faz diversas menções de que podemos, e devemos, ter um senso crítico e, até mesmo, através de um julgamento "segundo a reta justiça", repreender, disciplinar e até expulsar do nosso meio os pecadores impenitentes. Esse é o julgamento aprovado por Jesus, pois está alicerçado em Suas Palavras: "Não julgueis segundo a aparência, mas JULGAI segundo a reta justiça." (João 7:24, ênfase minha). É ordem do Senhor que analisemos tudo com o firme propósito de discernir o mal do bem (Mateus 10:16) e ajudar nossos iguais a andar no caminho da justiça e entrar pela porta que é estreita, não entristecendo o Espírito Santo. Paulo reforça essa diretriz mostrando que devemos ser "sábios no bem, mas simples no mal." (Romanos 16:19), e "julgai todas as coisas, retende o que é bom" (1Ts 5:21).

Outras passagens que nos inspiram a julgar retamente: Dt 16.18; Jo7.24; 1Cor 5.12; 6.2,5; 10.15

Antes da repreensão se faz necessário crer que a pessoa precisa ser repreendida - julgá-la repreensível. Versículos sobre repreensão: Pv 15.32; Mt 18.15,17; 1Tm 1.20; 5.20; 2Tm 4.2

Então, como podemos entender essas palavras de Jesus: "Não julgueis, para que não sejais julgados" Mt 7.1; Lc 6.37?

Acredito que tratasse de um ensinamento que nos motiva a ser menos altivos e hipócritas, gerando em nós mais amor para com o próximo, compreensão e empatia, nos coibindo a "não fazer com os outros o que não queremos que nos façam". A bíblia está cheia desses princípios (Dt 18.19-21; Pv 19.17; Mt 5.7; 6.14,15; 7.12). Muitos se "especializaram em ver com uma lupa" os defeitos dos outros - e não o seu. Se, a medida que usamos para medir os outros será a mesma que seremos medidos, logo, devemos diminuir essa "régua" ao fazê-lo, sendo mais tolerantes e generosos. Assim, como Jesus ensina, alcançaremos a tolerância e a generosidade de Deus Pai (Lc 6.35,36,38).

Em Mateus 7 a ênfase maior é a do julgamento revestido de hipocrisia, quando sita que se deve tirar antes a "viga" do próprio olho para então assim remover o "cisco" do olho do próximo. Igualmente, na carta aos Romanos 2.1, Paulo afirma o erro em julgar quando se pratica os mesmos pecados - hipocrisia (ele sita uma lista destes Rm 1.28-32). Não só os gentios pecaram, mas eles também (Rm 2.1,3,21-24).

Tanto em Mateus 7 como em Lucas 6.37 essa repreensão do Senhor (não julgar) aparece na sequência do "Sermão do Monte", entre um ensinamento de como devemos amar o próximo, de como são os "filhos do Altíssimo" (Lc 6.20-45). "Não julgar" se encaixa muito bem com seus ensinamentos de não amarmos somente a quem corresponde a nossas expectativas (Lc 6.27.35). Abraçar, incluir, amar e não julgar a todos que nos é contrário, pois eles assim aprenderão a abraçar, incluir e a amar. Do mesmo modo, Paulo, ainda na carta aos Romanos, em Rm 14.10 questiona o julgamento - "porque julgas"-, onde o assunto do contexto é sobre a tolerância com os de opiniões diferentes (Rm 14.1,2) e insiste no assunto dizendo que "cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (v.12) pois por causa de opiniões julgadoras pode se "entristecer" o irmão (v.15) e até "destruir a obra de Deus" na vida dele (v.20) e quem age de tal maneira "não anda segundo o amor fraternal" (v.15).

Lembre-se da atitude de Jesus no caso da mulher adultera, que levaram até Ele para que julgasse. Ele não impediu que a julgassem, no entanto, nem Ele, tão pouco os que lá estavam a julgaram ,antes Ele os fez meditar, fazendo-os enxergar sua hipocrisia e gerando neles empatia por ela e misericórdia, pois todos reconheceram que também são pecadores, passivos da condenação de Deus. Em seguida, Ele não a questionou sobre seus atos nem lhe passou um sermão (ela já tinha sofrido o suficiente e reconhecido sua falha), Ele a despede e lhe aconselha que não volte a errar (Jo 8.3-11). Ele não a entristeceu e nem a envergonhou ainda mais apontando seus erros, pelo contrário, foi amoroso, agiu como Paulo indicou aos romanos em sua carta.

Sobre os hipócritas: Não é por serem falsos que julgamentos hipócritas são inaceitáveis - pode ser que sejam julgamentos verdadeiros. Jesus até disse que os fariseus hipócritas normalmente estavam certos no que diziam; o problema é que eles não seguiam seus próprios conselhos (Mt. 23:1-3). O problema é para os hipócritas! Pois sua situação se agrava, e, portanto, têm de lidar com seus próprios pecados primeiro (Mt. 7:1-5). Contudo, há nisso uma importante lição para nós: Se formos alvos de críticas vindas de pessoas que consideramos hipócritas, não devemos, por causa de sua hipocrisia, simplesmente desconsiderar tais críticas. Ao contrário, devemos examinar se a crítica tem fundamento. Deus às vezes usa pessoas com más intenções para comunicar algo verdadeiro a outros (Fp. 1:15-18).

Há ainda o caso do julgamento "pela aparência", não os comprovados por fatos. Julgamentos baseados numa má interpretação das aparências, que não podem julgar os fatos como eles realmente o são. E também aqueles assuntos que nós, humanos, simplesmente não somos competentes para julgar. Não podemos, por exemplo, julgar se um determinado indivíduo vai ou não ser salvo. Esse julgamento é de competência exclusiva de Jesus Cristo (Jo. 5:22-23; At. 17:31), também não nos compete julgar como estão espiritualmente nossos irmãos (1Co 11.28,31).

Por tanto, reitero que as palavras de Jesus sobre "não julgar", não se trata de todo tipo de julgamento. Antes se trata dos "maus julgamentos" - aqueles que não acrescenta no crescimento de quem está sendo julgado - de julgamentos injustos, hipócritas e aqueles que não nos compete a julgar. Sendo assim um ensinamento que não nos permite acharmo-nos melhores que os outros e a sermos hipócritas, o qual nos impulsiona a sermos melhores para, aí então, poder ajudar o próximo, e que também nos motiva ao amor fraternal, a sermos compreensivos e a termos empatia.


Pr. Eder L. Souza 08/02/2020.

Referências

FÉ", E. d. (2020). É sempre errado julgar os outros? . Fonte: CACP Minitério Apologético: https://www.cacp.org.br/e-sempre-errado-julgar-os-outros/

França, E. E. (2020). Podemos Julgar? Fonte: CACP Ministério Apologético: https://www.cacp.org.br/podemos-julgar/

Keener, C. S. (2017). COMENTÁRIO HISTÓRICO/CULTURAL DA BÍBLIA Novo Testamento. São Paulo: VIDA NOVA.

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