Ceia - Comer e Beber Indignamente

13/10/2019

Nossas informações sobre a natureza exata da cerimônia da Ceia do Senhor não são muito grandes, (...) é possível que, em diferentes localidades do mundo cristão da época, diferentes práticas fossem seguidas. Quase todos os intérpretes concordam que originalmente a Ceia do Senhor consistia de uma refeição tomada à noite, não estando necessariamente vinculada ao culto dominical, mas antes, podia ser marcada para qualquer dia.

Mas o que vamos analisar nesse artigo são os significados dos versículos 27 e 28 do capítulo 11 da primeira carta aos coríntios, que diz:

"Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice" 1Co 11.27,28

Para tal, se faz necessário ter noção do propósito principal que Paulo tinha em mente em escrever essa carta. Paulo recebeu recado, da parte da família de Cloe (I Cor. 1:11-17), acerca das contenções que tinham surgido entre os crentes de Corinto, o que havia produzido facções entre eles, e assim ele segue a epistola condenando tal erro e motivando-os a viverem em comunhão e amor fraternal (1Co 1:9-13; 3:3; 6:1; 11:17-18; 12:12-27).

Os itens mencionados - a insensibilidade a questões sexuais, a preocupação com seus dons de palavra e conhecimento, e o foco concentrado excessivamente em seus líderes favorecidos - eram sintomas de uma enfermidade grave disseminada profundamente entre os cristãos de Corinto. Eles estavam fascinados com sigo mesmos, e se excluíam um aos outros e, o que é ainda mais importante, excluíam Deus e o seu governo de suas vidas.

Jo 17:21-23 "a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim."

O desejo de Jesus, com toda sua obra que glorificava a Deus, era que seus seguidores fossem um povo unido de maneira plena, assim como Ele é com o Pai (Jo 17.11,21-23). Que amem uns aos outros (João entendeu isso - 1Jo 1.7; 2.9-11; 3.23; 4.7, 20). Unidos até mesmo com outras igrejas (denominações) cristãs (Atos 11.27-30).

Vemos no capítulo doze que, Paulo passa a falar de maneira mais ampla sobre os dons do Espírito, e até mesmo nesse assunto, ele tem o propósito de incentiva-los à comunhão e ao amor fraternal (1Co 12.12-27). Repare no capítulo treze, que fica entre os outros dois capítulos que falam sobre os dons... a centralidade é o amor... que não importa quais dons que possam possuir, ou qualquer coisa que façam, se não tiverem amor de nada valeria (1Co 13.1-3,13).

O contexto onde Paulo passa a falar a respeito da Santa Ceia do Senhor não é diferente. Vemos em 1Co 11.17,18 ele repreendendo-os por causa de divisões que havia se formado (não vos louvo-os) o que os prejudicavam ainda mais.

Divisões até mesmo nos momentos da ceia do Senhor (v.20 ss). É bem provável que aquilo que Tiago condenou (Tg 2:1-4) se tornara pratica comum em Corinto. Vemos nos versículos 21e22 favorecimento de alguns, ao passo que outros membros da igreja eram desprezados, o que os levava a se sentirem mal acolhidos. Os pobres permaneciam famintos, os ricos e favorecidos se embebedavam ou se faziam de glutões. Comiam antes da chegada de membros menos favorecidos, e praticamente nada deixavam para estes últimos.

Uma atitude inaceitável até mesmo perante a decência social comum dos pagãos, quanto menos em uma festividade celebrada em honra ao Senhor Jesus! (que como já foi dito acima, queria a união de seus discípulos). Assim, rompiam com a comunhão da igreja, com o vínculo da paz, e se afastavam da lei do amor que deve prevalecer entre os cristãos. O exemplo deixado por Cristo foi uma contradição de todo o egoísmo. (Rm 15:3).

Não entenderam que a Ceia do Senhor tem por proposito fomentar o companheirismo espiritual, não tendo por finalidade principal satisfazer a necessidade que o corpo tem de alimentos (1Co 11.33). Se porventura algum crente está com fome, pode comer em sua própria casa (1Co 11.22).

1Co 11:27 De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.

Paulo agora se volta para as diversas desordens existentes na igreja de Corinto, aquelas especialmente associadas a Ceia do Senhor (referidas nos versículos dezessete a vinte e dois), e aqui passa a ilustrar ainda mais a seriedade dessas desordens. Porque a Ceia do Senhor está associada a proclamação do imenso valor de Cristo, a sua memória, especialmente a sua morte, não sendo algo que possa ser efetuado levianamente, conforme os crentes de Corinto vinham fazendo, em sua conduta desordenada.

...indignamente...Certamente que ele não exigia um valor absoluto por parte dos participantes, (que fossem todos sem pecado) pois, nesse caso, ninguém jamais seria capaz de participar dessa cerimonia, pois, quem diz que não tem pecado é mentiroso (1 Jo 1.8), porquanto temos pecado que não temos a noção que o temos (Sl 19.12). Antes, segundo o contexto, ele quis dizer que a decência comum deve ser observada; não pode haver qualquer das desordens de glutonaria, de embriaguez, de egoísmo, de degradação a outros, de contendas entre os crentes, de adoração a "heróis" por parte de grupos facciosos, etc., todas as quais praticas atuavam como elementos perturbadores da igreja de Corinto, que profanavam sua observância da Ceia do Senhor.

Aqueles crentes de Corinto insultavam o sentido da morte de Cristo, profanando-a, porquanto profanavam a cerimônia que relembrava a sua morte. Desonrando o corpo de Cristo, que é, tanto o próprio Cristo, quanto nós como igreja de Cristo (1Co 12.27; Rm 12:5; Ef 1:23; Ef 4:12; Ef 5:30; Cl 1:24). Não discernir o corpo do Senhor é menosprezar a sua expiação, profanando-a através de ações injuriosas a igreja, especialmente na forma de ações prejudiciais, contra outros crentes.

O apostolo Paulo conclama os seus leitores a uma avaliação seria e correta do que essa cerimonia significa; e, desse modo, para que pudessem evitar profanar a mesma. Aqueles que a profanam, pois, não discernem o corpo de Cristo.

O versículo 28 parece dar a entender uma mais ampla aplicação desse termo (indigno).

1Co 11:28 Examine-te, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice.

...examine-te... Cumpre ao crente averiguar em que ofendeu a algum irmão, ou como profanou o nome de Cristo perante outros. É função dele tirar o "argueiro" dos olhos e de mais ninguém.

Aqueles crentes de Corinto não estavam discernindo o corpo de Cristo. Aqui está em foco a ideia de fazer um autoexame, uma auto investigação, em que o crente procura discernir se é própria a sua participação na Ceia, se ele realmente se sente parte desse corpo, por serem dignos os seus motivos e as suas ações. Assim, pois, é muito importante que a pessoa faça um inventario de si mesmo. É preciso que o crente enfrente honestamente os seus pecados, com o propósito de abandona-los. O exame das condições espirituais e morais da vida antecipa o arrependimento. Deveria perdoar a seus irmãos e buscar deles o perdão para as ofensas pessoais que, porventura, os tenham atingido por sua culpa (1Jo 4.20).

A Ceia do Senhor nos conclama a união, na qualidade de um só corpo, e não as divisões, como se fossemos membros de diferentes corpos.

Quem pode participar da ceia do Senhor?

Notemos que a epístola é escrita para cristãos. Pressupõe-se que todos batizados. Não para pessoas sem pecados, pois isso não existe, mas é determinado um autoexame, e, quando isso é devidamente feito, o crente se torna "digno" de participar da Ceia do Senhor (1Co 11.28). Isso não pode ser usurpado pela igreja, não devendo recusar a participação na Ceia a qualquer crente por esse motivo. Precisamos aceitar a sua profissão de fé em Cristo. Naturalmente que toda pessoa que vive em pecado franco deve ser barrada da Ceia do Senhor, como também deve ser excluído da igreja, conforme o trecho de 1Co 5:11.

Cristo deu a sua vida por nós, a fim de que pudéssemos possuir a vida espiritual (João 1:12). Assim, o crente passa a compartilhar de uma nova forma de vida, semelhante a vida do próprio Cristo (João 3.3-6; 1Joao 3:2). Essa vida é desenvolvida na vida presente quando vivemos no Espirito (ver Gal. 5:25). Sua prova consiste do cumprimento da lei do amor (ver 1 João 4:7).4 É claro que por hora não seremos perfeitos (sem pecado) (1Jo 1.10), porem, viver pecando (ou "viver no pecado") não é atitude de um verdadeiro cristão (1Jo 2.4).

Por tanto, todos que já batizados, e que procuram viver uma vida cristã verdadeira, madura, em comunhão com os irmãos, amando a Deus, evitando o pecado, etc., pode se considerar participante do corpo de Cristo e digno de participar da Ceia do Senhor. Mas os não batizados, pois ainda não se decidiram em uma confissão pública ao Senhor, e aos já batizados, mas que vivem pecando, são conscientes disso, e, mesmo assim, não tentam, com todas as forças e por todos os meios retos, sair dessa situação deplorável, deve se auto excluir de participar.

"Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" 1João 1:8-9 

"Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade" 1João 2:4


Pelo pr. Eder L. Souza.

Bíbliografia:

Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia_Norman Champlin
Comentário de 1Co 1.1-17 da Bíblia de Estudo Apologia Cristã_CPAD 2015 1° Edição
O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo_Norman Champlin
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